BIG TECHS

Haddad, Big techs no Brasil e o retrocesso vestido de máscara de “solução”

Por:   23/06/2025 - 21:09

Com a expansão acelerada da inteligência artificial, o Brasil se tornou um destino cada vez mais cobiçado por gigantes da tecnologia interessadas em ampliar sua infraestrutura de processamento de dados. Para atrair investimentos bilionários, o governo federal prepara uma medida provisória que deve ser enviada ao Congresso Nacional nas próximas semanas, criando uma série de incentivos fiscais para a instalação de data centers no país.

Entre as propostas em discussão no Ministério da Fazenda estão a isenção de tributos federais e a desoneração na importação de equipamentos de tecnologia, com o objetivo de criar um regime especial para o setor. A pasta comandada por Fernando Haddad estima que a iniciativa pode destravar até R$ 2 trilhões em investimentos ao longo dos próximos dez anos. Para atingir esse montante, seria necessário que o setor recebesse cerca de R$ 200 bilhões por ano — o equivalente a financiar de quatro a cinco megaprojetos anualmente.


A corrida por data centers é impulsionada pela explosão de modelos de inteligência artificial que dependem de grandes volumes de dados para funcionar. Sistemas de aprendizado de máquina, aprendizado profundo e grandes modelos de linguagem — como o GPT ou o DeepSeek — precisam de uma infraestrutura robusta de armazenamento e processamento de informações, alimentada continuamente por redes sociais, aplicativos e serviços digitais.

Hoje, os Estados Unidos concentram mais da metade dos data centers do planeta, com estruturas de hiperescala que consomem recursos naturais em proporções impressionantes. Um exemplo é o data center do Google em The Dalles, no estado do Oregon, que em 2020 utilizou 1,35 bilhão de litros de água apenas para resfriar seus mais de 200 mil servidores.


Apesar de sua importância para a economia digital, os data centers têm alto custo ambiental. Segundo a Agência Internacional de Energia, o consumo global dessas instalações já se equipara ao gasto energético anual de países como o Japão. Para suprir essa demanda, algumas big techs norte-americanas estudam recorrer a pequenos reatores nucleares — uma solução que, embora seja apresentada como “energia limpa”, ignora os riscos relacionados ao lixo radioativo e à segurança.

Especialistas alertam que o modelo atual, centrado em gigantescos volumes de dados, precisa ser revisto do ponto de vista da sustentabilidade social e ambiental. Mesmo assim, as grandes empresas de tecnologia continuam avançando sobre novos mercados em busca de condições favoráveis de operação.


Ainda não oficializada, a política de incentivos já vem sendo apresentada pelo ministro Fernando Haddad a investidores estrangeiros e representantes do setor de tecnologia, especialmente no Vale do Silício. No entanto, até o momento, o governo não divulgou estudos de impacto ou análises de custo-benefício que detalhem o retorno para o país com o pacote de incentivos.

Assim, cresce o debate sobre o que o Brasil realmente ganhará ao abrir mão de receitas tributárias para atrair data centers estrangeiros — e sobre como mitigar os possíveis impactos ambientais de uma indústria que, cada vez mais, consome água e energia em larga escala.